Notícia

"Há setores que recuperarão mais depressa e há oportunidades geradas por esta crise"

31/07/2020

Líderes das principais sociedades de advogados antecipam um aumento da atividade em áreas como reestruturações, insolvências, contencioso e M&A, entre outras, apesar da queda das receitas. E admitem fusões entre firmas.

As principais sociedades de advogados portuguesas mostram-se cautelosas face à evolução da economia nos próximos meses. A possibilidade de uma segunda vaga da pandemia e o fim das moratórias de crédito e do regime de lay-off constituem as principais incógnitas que vão ditar o ritmo da recuperação, segundo os líderes do setor ouvidos pelo Jornal Económico (ver Fórum nestas páginas). Mas uma coisa é certa: apesar de algum impacto nas receitas, a atual conjuntura deverá levar a um aumento do trabalho em áreas como as reestruturações de empresas, insolvências, fusões e aquisições (M&A), fiscal, contencioso e laboral, entre outras. Além de abrir a porta a movimentos de consolidação dentro do próprio setor da advocacia de negócios.

Bruno Ferreira, co-managing partner da PLMJ:

Quais são as vossas expectativas em relação à recuperação da economia durante o que resta de 2020 e em 2021?

A contração de 2020 vai ser seguramente violenta – as previsões apontam para um valor próximo dos dois dígitos – e o crescimento que é estimado para 2021 está longe de compensar a travagem económica deste ano. Portugal está numa posição especialmente vulnerável, com os principais motores da economia praticamente parados – o Turismo e as exportações. O setor privado não tem confiança para investir e o mercado interno – já pouco pujante mesmo em ciclos económicos de crescimento - vai necessariamente travar a fundo, por via do aumento do desemprego e das perspetivas para a economia. A equação é difícil e a solução está assente quase exclusivamente numa resposta pública que, por sua vez, depende essencialmente de Bruxelas. Diria que é essencial que o cheque comunitário seja criteriosamente usado nos setores capazes de relançar efetivamente a economia, para que a recuperação seja mais ambiciosa do que aquela que se estima neste momento.

Teremos uma retoma em várias velocidades, consoante os setores de actividade? E se sim, qual o impacto nas diferentes áreas de prática da sociedade?

Há setores que recuperarão mais depressa e há oportunidades geradas por esta crise. Antecipamos consolidações no setor financeiro, uma retoma do investimento imobiliário e um crescimento do investimento em alguns setores como o da Energia, que resulta da agenda europeia e nacional pró-descarbonização da Economia. Alinhado com este desígnio, setores como o da mobilidade e tecnológico, tenderão a recuperar mais rapidamente. Por serem setores capital intensive, animarão o investimento estrangeiro em Portugal, assim saibamos criar as condições regulatórias, jurídicas e políticas para o captar. Outros setores, como o Turismo e atividades eminentemente exportadoras, levarão o seu tempo a recuperar e estão naturalmente muito vulneráveis ao desenrolar do contexto da pandemia.

Em termos de áreas de prática, diria que o dinamismo virá, por razões óbvias, da área de Laboral, Insolvências e Reestruturações, mas também Corporate M&A e Bancário e Financeiro.

Que áreas deverão ter mais actividade, devido à atual conjuntura económica?

Certamente que a área de Insolvências e Reestruturações será uma das mais ativas e já temos sinais disso. O contexto atual foi fatal para muitas empresas com tesourarias mais vulneráveis e mesmo para empresas que, sendo sólidas há seis meses, não terão condições para retomar a atividade quando o contexto da pandemia passar. Basta pensar no setor do Turismo, por exemplo. Está a ser um grande teste ao nosso setor empresarial e temos visto muitas empresas a terem de se reinventar de um momento para o outro, o que implica uma grande adaptação da sua estrutura produtiva e modelo de negócio e, nessa medida, a segunda metade de 2020 e 2021 serão um período de profundas reestruturações.

Bancário e Financeiro e Mercado de Capitais são áreas onde também já estamos muito ativos e que tenderão a crescer nos próximos meses, a acompanhar as necessidades de capitalização das empresas que procuram alternativas ao crédito para financiarem a sua atividade.

As medidas de resposta à crise trarão também consigo atividade adicional, em particular ao nível do trabalho relacionado com projetos e infraestruturas.

Esperam um aumento da actividade de M&A, devido à necessidade de consolidação em alguns setores? Se sim, em quais?

Do lado do capital, o contexto é claramente favorável: não só estamos num contexto de crédito muito barato, num ambiente de taxas de juro extremamente baixas e que assim se manterão no médio prazo por força da violenta contração económica mundial, como existe muita liquidez no mercado, tanto em fundos de private equity, como nas grandes empresas. O momento atual é ainda de expetativa para se aferir a dimensão e duração da contração económica mas já há sinais de atividade de M&A e antecipamos que as operações regressem no quarto trimestre do ano e com mais força em 2021.

Estamos sempre a falar de empresas-alvo que são económica e operacionalmente viáveis mas que estão financeiramente vulneráveis, justamente por causa do impacto da travagem económica na sua tesouraria. É para estas empresas que os fundos estão a olhar. As que já chegaram a esta crise operacionalmente desequilibradas, nestes casos estaremos a falar de um aumento das insolvências.

Em termos de setores, vemos oportunidades nos setores mais afetados pelo atual contexto - aviação, turismo e comércio – e naqueles que merecem a fatia de leão do investimento público, nomeadamente Energia e Mobilidade.

Qual o impacto esperado da crise nas vossas receitas em 2020, quando comparado com 2019?

2019 foi o melhor ano de sempre da PLMJ e, a meio de 2020, os sinais não são negativos. Naturalmente que estamos preparados para impactos negativos do atual contexto e implementámos um plano de gestão prudente para fazer face a um contexto mais adverso. A verdade é que algumas das medidas que anunciámos no início desta pandemia – nomeadamente o adiamento do pagamento de uma parte dos prémios aos advogados - já foram revertidas porque os nossos piores cenários não se materializaram e estamos confiantes de que 2020 será um ano tão forte quanto 2019.

Qual o impacto desta conjuntura na vossa equipa?

A PLMJ tem estado a reforçar equipas e a redução de pessoas por via do atual contexto nunca foi equacionada como medida de redução de custos. Pelo contrário, temos vindo a avançar com as progressões nas carreiras dos nossos advogados e a contratar talento no mercado e esse caminho é para continuar. Até ao final do ano teremos novos sócios, vamos receber 30 advogados estagiários e continuar a reforçar a nossa equipa de advogados e serviços com o melhor talento do mercado.

A atual conjuntura poderá levar, em vossa opinião, a movimentos de consolidação entre escritórios?

É possível que essa consolidação aconteça, sendo mais provável que aconteça entre sociedades que não integram o chamado Magic Triangle (PLMJ, ML e VdA), em particular com escritórios de menor dimensão que poderão sofrer mais com o eventual aperto resultante da crise. Dito isto, hoje estamos especialmente apetrechados para fazer o nosso crescimento e consolidação assentarem em duas vias: a aposta contínua no talento das nossas equipas internas hoje muito robustas e, paralelamente, olhamos para talento que está disponível no mercado, que aporta real valor à nossa estratégia de longo prazo e, se se justificar, somá-lo à nossa equipa.

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